O diretor de teatro, Aurélio Mesquita, natural de Monsenhor Tabosa (CE), escreveu ao site Página Aberta, artigo jornalístico, através do qual procura revelar à desvalorização da Cultura no sertão cearense. Para Mesquita, muita coisa se perdeu, ficando arquivadas apenas na memória de pessoas mais velhas ou em algum livro. Ele usa de analogias para mostrar como a cultura sertaneja tem sido deixada de lado, ao mesmo tempo demonstra esperança de que essa realidade posa mudar.
Sou nascido e criado aqui por estas bandas do Sertão Central do nosso Estado do Ceará. Muitas coisas por aqui deixaram de existir: os Caretas, Bois-bumbás, Cantorias, Estórias de Trancoso, Tertúlias, Emboladas, Coroação, Bandeirinha, Cassimiro Coco… Restou o futebol “machista”, o “paredão” (um veneno auditivo), o forró, que apesar de ser parte íntima da nossa região e da nossa cultura, as músicas tocadas são de gostos duvidosos, algumas letras beiram a pornografia e a apologia ou álcool. Um vazio de tudo!
Creio ser necessária uma intervenção de natureza pública, com um programa que ofereça a toda gente das comunidades rurais dos nossos municípios, ações culturais alternativas, educativas e que sejam capazes de amenizar o impacto mercadológico, que deseduca e emburrece o povo. Como dizia Capiba (músico e compositor brasileiro), a gente acha que cachorro gosta de osso, e então só damos ossos aos Cachorros. Mas na verdade o que os cachorros têm é fome! Quer ver ponha o osso e o filé pro cachorro escolher. Pois é assim também na área da cultura e da arte, não estão dando o direito de o povo escolher entre o filé e o osso. Só dão o osso ao povo!
Penso que os gestores públicos da área da cultura aqui da nossa região são exemplos de como passar por toda uma gestão, desapercebidos. Leio a notícia com alegria, a respeito da intenção do Governo estadual de promover concurso para a Secretária de Cultura de Estado, que a meu juízo deveria ser uma das mais importantes pastas de um Governo. Mas numa sociedade como a nossa, cheia de preconceitos e elitização do conhecimento, um concurso público para uma área tão importante deveria incluir os níveis médio e técnico. A maioria dos nossos artistas não possuem nível superior, e um departamento que promove políticas públicas de cultura e arte sem a participação de artistas, desafina.
Minha sugestão é que não falte no próximo Governo do Brasil, uma forte deselitização da área da Cultura. Aqui no sertão eu já andei em centenas de comunidades e ainda não encontrei um único equipamento público de cultura.
Aurélio Mesquita – Ator DRT nº 14077, diretor de teatro e fotógrafo. Morador da comunidade Cachoeira dos Silvestres – Boa Viagem (CE). Criador da Via “Sacra da Rocinha”, hoje patrimônio cultural e imaterial da cidade do Rio de Janeiro (RJ). Trabalho atual: Circo do Tio Francisco (Espetáculo para Crianças)
Contato: WhatsApp: (88) 993151494
E-mail: contato.aureliomesquita@gmail.com
Deixe seu Comentário
Sua opinião é muito importante para nós, participe.